A Viagem
Colecionador > Parte 2
Sergio Valério
Para Fred, os dias passavam velozes como os raios que cortam
as tempestades diárias de São Paulo. Tudo era feito com pressa, quase sem
respirar, afinal de contas que tempo tem um alto executivo senão o de se
dedicar aos seus negócios?
Porém, como tudo tem um porém,
talvez em uma fração de segundos, veio um corte. Foi tudo tão rápido, tanto
quanto o seu ritmo de vida, que nem houve tempo para dizer adeus.
A luz abraçou toda a alma de
Fred que simplesmente se deixou levar. O caminho por onde passava era
maravilhoso, as cores encantavam seus olhos num verde, azul, amarelo e vermelho
como das telas dos grandes pintores.
Ele ouvia vozes de sua família,
de seus amigos e todos pareciam querer chamá-lo de volta, mas era impossível. A
irreversibilidade de sua partida estava definida e ponto final.
Enquanto parecia ser levado
para algum lugar que nem imaginava, as imagens desde quando era um garoto
morando no interior até os últimos segundos de sua vida na cidade, pareciam se
misturar entre si, dando a impressão que assistia um filme já visto e revisto.
A viagem não era ruim, mas ele
se sentia sozinho, afinal de contas, estava deixando para trás aqueles que
amava.
De repente, um latido chamou a
sua atenção. Vinha de algum lugar ainda não perceptível, mas lhe parecia
familiar. Seu corpo, leve como uma pluma, girou para todos os lados em busca da
imagem do cão que parecia latir para ele.
De repente, do nada, Didu
surgiu ao seu lado. O cachorro tinha sido o seu grande amigo na infância e
agora, depois de mais de quarenta e poucos anos, aparecia para ele.
A viagem de Fred ao
desconhecido durou sabe-se lá quanto tempo, porém Didu ficou sempre ao seu
lado.
Talvez porque animais gostem
tanto de seus donos que seriam capazes de caminhar ao seu lado por toda a
eternidade, se isto lhes fosse possível.