O Mecânico e o Cão
Colecionador > Parte 2
Sergio Valério
Ele abriu os olhos e viu que a luz do sol já estava sobre a calçada onde dormira mais uma noite. Levantou-se, ainda com vontade de ficar dormindo mais um pouco e seguiu em direção à oficina, pois sabia que lá encontraria água e algo para comer. Aquele homem que usava sempre um macacão cheio de marcas de graxa era muito bom para com ele, dava-lhe o que beber, o que comer e ainda lhe passava a mão na cabeça.
Bin (era assim que o homem lhe chamava) não entendia por que todas as pessoas não eram como o mecânico e muitas gritavam para sair da frente quando elas passavam e outras chegavam até a chutá-lo. Depois de alguns metros, Bin achou que algo estava estranho, pois a porta de aço não estava levantada. Será que havia acordado muito cedo? Bin deitou-se então na calçada e por ali ficou por horas e horas. A tarde chegou e a oficina continuava fechada.
Em uma estrada que levava ao interior, no carro, um homem ao lado da mulher e dos filhos seguia para um novo caminho em sua vida, pois havia comprado uma casa em outra cidade e estava já de mudança para lá. O carro já havia andado cerca de cem quilômetros, quando em um viaduto, ao ver a placa de retorno, Geraldo, o mecânico, ligou a seta do seu carro e voltou em direção à cidade onde estava a sua oficina, agora fechada. Sua mulher não entendeu nada e perguntou: Aonde você vai?
Geraldo não respondeu nada, seus olhos pareciam sorrir, apesar de algumas lágrimas que insistiam em cair.
A cidade já estava com as suas luzes acesas, quando o carro estacionou em frente da oficina. O homem saiu do carro e correu em direção até Bin. O cão abanou o seu rabo, demonstrando toda a sua alegria, parecendo pressentir que aquele homem que durante tanto tempo o ajudara com ração e água, resolvera adotá-lo definitivamente, pois havia descoberto o quanto os dois precisavam um do outro.