Tio Fred - Jornal Animal

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Tio Fred

Colecionador > Parte 2
Sergio Valério
 
Com quem ficaria Didu? Esta pergunta, Luis Carlos se fazia ao se despedir pela última vez do tio Fred que falecera aos 67 anos de idade.
Tio Fred não tinha filhos e durante toda a sua vida não havia se preocupado com absolutamente nada que não fosse a música e o seu cão Didu.
Ele se apresentara em muitos shows por todo o interior de São Paulo tocando a sua viola e tendo ao seu lado o seu querido animal de estimação.
Os shows eram em praça pública e não havia necessidade de nenhum equipamento, pois era apenas o seu violão e a voz forte que se faziam ecoar para os aplausos do público que ficava normalmente ao redor do coreto onde Tio Fred se apresentava.
Enquanto ele cantava, o seu cão Didu ficava sentado ao seu lado olhando atentamente para o seu dono, enquanto as pessoas depositavam notas e moedas no chapéu do músico.
Normalmente alguém sempre levava Tio Fred para casa ou para um hotel pagando a diária e assim a vida passava pelos olhos e pelo violão do músico, sempre acompanhado de Didu.
A família censurava Tio Fred, sempre tentando fazer com que ele mudasse o rumo de sua vida e encontrasse um chão mais firme. Alguns lhe diziam: “Faça um concurso!”, enquanto outros complementavam: “Pense no futuro, Fred!”.
         Nada porém alterou o caminho que Tio Fred escolhera e somente a doença o tirara do seu sonho de viver cantando.
         Ao sair do local onde Tio Fred ficaria para sempre, Luis Carlos olhou para Didu e sentiu no olhar do cachorro, um pedido: “Fique comigo!”.
         Luis Carlos abriu a porta do carro, Didu entrou e lá se foram os dois em direção ao incerto, em busca do caminho de volta para casa. No fundo, Luis Carlos admirava Tio Fred pelo desprendimento para com o dinheiro, pois ele, Luis Carlos, passara a sua vida inteira pensando apenas na conta bancária e no sucesso profissional.
         A luz do sol batia nos olhos de Luis Carlos e Didu latiu como se pudesse ter adivinhado o pensamento do seu novo dono que, daquele dia em diante, havia se decidido a ser um pouco Tio Fred, sonhando mais e deixando mais espaço em sua vida para amizades sinceras como a de Didu.
Editor: Sergio Valério
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