O Dono do Mundo
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Sergio Valério
Na vitrine o casaco de peles é o objeto de desejo
da moça que o observa atentamente.
Nas ruas o homem apressado aperta o passo e
seus sapatos de couro pisam no asfalto.
No quadro exposto no quarto, moram para sempre
borboletas sem vida.
No Canadá, mais uma foca é abatida, com ela, o
número já chega a um milhão.
Na casa de campo do caçador, estática está a
cabeça de um alce de olhos abertos.
Na ponta de um anzol um peixe ainda tenta
escapar da foto em que irá aparecer ao lado do pescador.
No céu, um tiro atinge em cheio o peito de uma
ave que cai.
Um galo agoniza e o outro está ferido, enquanto
um senhor conta o dinheiro da aposta.
A carcaça de uma onça repousa como tapete de
uma sala.
No mar, uma baleia em vão, tenta se
desvencilhar de um arpão que lhe rasga o corpo.
Na floresta, um elefante tenta escapar de
homens que querem transformar partes do seu corpo em dólares.
Na velha casa, um cachorro cego, abandonado
pelo seu dono, vagueia pelos cômodos.
Com a coleira presa em correntes de ferro, um
outro cão tem um metro de espaço para
andar.
Um gato procura nas latas de lixo algo para
comer.
Um violento golpe derruba um boi em um
matadouro.
Uma espora fere um cavalo e a novela estréia.
Uma chicotada atinge um leão.
Uma bolinha de carne com veneno faz um
cachorrinho gemer até a morte.
Trimmm! O despertador toca. São oito horas da
manhã.
É hora de acordar, ser humano.