Monja Coen
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MONJA COEN SENSEI:
"Os Animais são nossos companheiros!"
A Monja Coen Sensei, Primaz Fundadora da Comunidade Zen Budista, criada em 2001, é missionária oficial da tradição Soto Shu - Zen Budismo, com sede no Japão.
Conversar com ela é como conversar com a Paz. Ela nos recebeu na Comunidade Zen Budista, no Pacaembu, falou de seus queridos animais e queremos dividir com você, Leitor(a), estes momentos muito especiais que passamos. Vamos lá?
O Zen Budismo e os Animais:
Ela nos diz: "Acho que desde o inicio das práticas budistas do Sakyamuni Buda, que é o fundador do budismo, nós falamos que todos os seres são a natureza Buda, a natureza iluminada. Então, não há exceção. Nós, seres humanos, não somos especiais. Somos uma das espécies e sem as outras espécies, não estaríamos aqui.
É uma visão bem diferente da idéia antropocentrista de algumas tradições religiosas, em que o ser humano é o centro da criação. Nós não somos o centro da criação, somos uma das espécies. Temos uma capacidade diferenciada de raciocínio, de inteligência, temos revistas, rádios, poesias, que é um pouco diferente das outras espécies, mas isto não nos torna melhor. A nossa visão é que cada espécie tem a sua função e seu papel e todos tem equidade, o mesmo valor de vida".
Os animais na infância:
"Eu tive um poodle chamado Bob, pretinho, que a vizinhança reclamava porque ele ficava na chuva, mas ele adorava chuva. Depois eu tive a Laika, que era uma vira-lata muito linda". A Monja, inclusive, lembrou-se que, na época, ficou muito conhecida uma cachorrinha chamada Laika que viajou em um satélite artificial, o Sputnik 2.
Ela complementa: "Laika foi atropelada. Aqui, ao lado, era um terreno baldio e eu fiz um pequeno cemitério. O que existia na minha infância, é que no bairro, tinham muitas matilhas de cães e eu costumava abrir a porta e chamar todos para dentro. Abria a geladeira e dava toda a comida que tinha. Quando minha mãe chegava, ela não podia entrar em casa porque tinha uns dez cachorros aqui dentro. Ela dava uma bronca, a gente soltava os cachorros, mas na semana seguinte acontecia tudo de novo. Minha mãe cresceu em fazenda e ela gostava muito de bichinhos, mas não da maneira que nós, crianças, gostávamos. Nós queríamos dentro de casa, na cama, e ela não. No tempo dela, cachorro era no quintal, fora de casa".
Nos Estados Unidos, Daina e Joshua:
"Mais tarde, eu fui morar nos Estados Unidos, me casei com um norte-americano e ele tinha um casal de dinamarqueses. Foi muito interessante conviver com cachorros tão grandes, o tamanho do pacote de ração e a quantidade que se dava, era uma coisa bem interessante. Eu comecei a perceber que se antes na infância eu já tinha isto, de repente eu comecei a perceber como nós nos comunicamos com eles. A cachorra se chamava Daina e o cão, Joshua. Era só o meu marido sair de casa que os cães começavam a pedir as coisas para mim. Daina olhava para a geladeira e olhava para mim. Eu abria a geladeira para ver o que ela queria e descobria no congelador que tinha um peixe, que tinha alguma coisa. Então, a gente começou a criar uma cumplicidade, um inter-relacionamento que foi muito bonito, muito agradável".
Monja Coen nos conta que viajou muitas vezes com os dois animais, dos Estados Unidos para o Brasil. Ela também nos diz que Daina ficou velhinha e acabou morrendo nos Estados Unidos. Sobre Joshua, o outro cão, ela explica: "Eu fui morar na Califórnia e quando estávamos correndo numa rua, ele deslocou a bacia e não levantou mais. Ficamos com ele até o fim da sua vida, com muita ternura e muito carinho".
No Japão e no Brasil:
"Voltei aqui para o Brasil e depois fui para o Japão, onde me tornei monástica. Lá eles não tinham animais no mosteiro naquela época, hoje eles têm um gatinho. Ao retornar do Japão para o Brasil, eu arranjei quatro akitas, que são cachorros maravilhosos, muito fiéis, silenciosos. O primeiro deles se chamava Musachi, que é o nome de um grande samurai. Ele era um cachorro muito forte, muito decidido. Eu trabalhava em um templo na Liberdade, na rua São Joaquim. O Musachi se acasalou e uma das filhotinhas veio ficar comigo, acabamos arranjando um outro macho, pequenininho, que se chamava Yamato, que quer dizer "a grande paz". Monja nos conta que também veio fazer parte do grupo, outra cachorrinha, ficando então, quatro animais: Yamato, Tchatcha, Musachi e Tora, sendo que os dois últimos tiveram vários filhotes. Monja Coen nos fala como foi a chegada de Tora: "Quando ela chegou, subiu na minha cama, mandou todos os outros cachorros embora e tomou posse. Foi uma coisa muito gostosa de sentir: - Você é minha! Até hoje é assim. Ela está cega, muito velhinha, com quinze anos, mas até hoje é a dona da casa e me defendeu a vida toda". Sobre os filhotes de Musachi e Tora, ela complementa: "A gente aprendeu, inclusive, que embora eu quisesse ficar com todos os filhotes é impossível, não teria condições. Sendo assim, nós procuramos dar sempre para pessoas que tivessem carinho, amor e condições para cuidar deles".
Os animais, as crianças e os idosos:
"Acho o animal muito importante para crianças, idosos e para todos nós. Eles nos colocam no presente, no aqui e agora, não tem muita fantasia sobre o passado e sobre o futuro. Existe esta presença absoluta que exige que esteja aqui, veja minhas necessidades, eu cuido de você e você cuida de mim. Há uma ternura quando você chega em casa , alguém que nos recebe sem muitas cobranças. Às vezes, pode ficar um pouquinho bravo, mas passa, é diferente do ser humano que, às vezes, guarda raiva e rancor. Então, o que nós aprendemos dele, o que reaprendemos dele, é a simplicidade da nossa parte animal, que fica bravo sem dar um "ron-ron-ron" e passa. Não ficar remoendo aquilo".
Animais têm almas?
Monja nos diz: "Nós tratamos os animais, como no Japão, como pessoas, quando morrem. Nós fazemos a prece por 49 dias, muito semelhante à prece que fazemos pelos seres humanos. O budismo não acredita numa alma fixa, permanente, mas que tudo isso está em um processo de transformação mesmo no pós mortem. Oramos para eles, agradecendo a vida que compartilharam conosco e que tenham um renascimento auspicioso. Que possam renascer em situações de contentamento, de alegria com a nossa gratidão, que não precisem sofrer. Este é o propósito das nossas preces. O respeito e a consideração que se dá é o mesmo de uma vida humana".
O que é cuidar de um animal, o que podemos oferecer de melhor para eles?
Ela reflete e responde: "Primeiro nós temos que entendê-los. Compreender que as suas necessidades não são as nossas, porque, às vezes, as nossas necessidades afetivas não são nem as deles. Por exemplo, esta cachorrinha, a Malo, ela detesta colo. Eu posso querer pegá-la no colo, mas se eu o fizer eu a estou ofendendo, então, eu preciso respeitá-los como seres vivos que têm as suas necessidades e suas idiossincrasias, como nós seres humanos, temos. Compreendê-los. Esta é a primeira coisa. Não é atender os pedidos deles, mas as necessidades verdadeiras que muitas vezes podem querer chocolate e outras tantas coisas que não lhe fazem bem. Como é difícil dizer um não para aquela carinha linda, mas assim como se educa crianças, a gente sabe como é difícil dizer não, muitas vezes. Nós sabemos que vão ficar grandinhos e que se pudermos orientar desde pequenos, vai ficar mais fácil para todos. Então, na verdade cuidar de um bicho é um compromisso que se tem. Se vai viajar, quem vai ficar para cuidar? Os horários de banheiro, da comida, devem ser mantidos".
Quantos animais você tem atualmente?
"Eu tenho o Akita, o mais velho, que é o Yamata e também a Torarimé, o Mussachi , a Tchatcha, o Godofredo, a Malo é a mais novinha. Quando ela chegou, eu fiquei pensando que nome eu daria. Uma aluna minha me disse: Coloque um nome que a senhora gostaria de chamar para si, para o templo, para a sua casa. Eu falei: Sabedoria. Então, o nome da cachorrinha ficou sendo Prágina, que significa Sabedoria, em sânscrito".
RECADOS:
Da Monja Coen Sensei para você, leitor(a):
"Que possamos continuar cuidando dos animais. Eu tenho certeza que as pessoas que leem o Jornal Animal são pessoas que amam os animais, que cuidam com carinho e com respeito. Que, então, a gente nunca desista disso. Mesmo se um dia ele morder você, deve ter tido uma razão, a gente fez alguma coisa errada. Peça desculpas a ele, não queira bater, prendê-lo, maltratá-lo. Tente compreender o que foi que aconteceu para que não se repita. Às vezes, o cachorro está estressado. Precisamos passear com eles, deixá-los cansadinhos porque eles viviam nômades e estamos fazendo-os ser sedentários. Nós também éramos nômades e agora somos sedentários. Talvez por isso tenhamos tanto estresse, tanta depressão. Vamos cuidar dos animais com a mesma ternura que cuidamos dos filhos, dos avós, de irmãos, pois são nossos companheiros".
Do Jornal Animal para Monja Coen Sensei:
Parabéns pelo seu trabalho e pela paz que nos oferece, tanto em seus textos, como em suas palestras, em seu templo e agora, nesta entrevista para o nosso Jornal Animal!
Do Jornal Animal para Você, leitora(a):
Ouvir a Monja Coen Sensei falar com tanto carinho de seus animais, nos renova completamente. Foi esta a sensação que ficamos ao terminar a nossa entrevista e temos certeza que você também se sentiu renovado em sua missão de cuidar bem do seu animal. Espero que Deus nos permita continuar ouvindo pessoas tão necessárias como a Monja Coen e poder continuar escrevendo para pessoas tão sensíveis como você, nosso(a) leitor(a)! Um forte abraço!
Sergio Valério