Pingo e a bolinha
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Sergio Valério
Eu me lembro muito bem daquele dia 23 de 2001.
Fazia muito frio naquela tarde do mês que os
seres humanos costumam chamar de Julho.
Eu era muito pequena e minhas donas logo me
chamaram de Pingo.
Eu fui privilegiada.
Ganhei três donas ao mesmo tempo: Neuza,
Palmira e Eliane.
O apartamento já tinha outra cachorrinha e nós
nos entendemos muito bem desde o início.
O nome da minha amiga cachorrinha era Jade.
Linda como aquela personagem da novela que eu
costumava ver, deitada no sofá, ao lado de minhas donas.
Ah! Como eu também tenho saudade daquelas tardes quando eu
passeava com minha amiguinha e minha dona, a Neuza.
E quando ela nos levava ao Pet Center, então?
Era uma alegria total, aqueles homens de branco
me viam e além de cuidar de mim, me transmitiam muita confiança, muito carinho.
A minha vida era maravilhosa, mas confesso que
eu ficava triste quando percebia que Neuza estava chateada.
Eu não entendia muito bem aqueles olhares que
eu recebia de algumas pessoas no prédio onde eu morava.
Parecia que eles não gostavam de mim e nem da
minha amiga Jade.
Eu não conseguia entender o porque, afinal de
contas, eu não fazia nada de errado!
Nós animais, não somos muito bons nessa coisa
de entender tudo o que se passa ao nosso redor, mas com certeza, podemos sentir
tudo o que acontece com nossos donos.
Ver Neuza triste, doía meu coração de cachorrinha.
Eu tentava consola-la dormindo ao seu lado em
sua cama e isso parecia lhe dar forças para enfrentar todos os problemas que
estava passando no prédio.
Eu sempre fiquei com uma impressão de que tudo
era por minha causa e por causa de Jade...
De repente, tudo ficou muito tranqüilo.
Acredito que deve ter acontecido algum acordo
entre as pessoas que ali moravam pois
minha dona passou a sorrir mais.
Passei a usar uma coleira para poder circular
no prédio e isso de forma nenhuma me incomodou.
O que importava era poder ver a alegria no
rosto de Neuza.
Voltamos a ser uma família totalmente feliz.
Neuza, Palmira, Eliane, Jade e eu retomamos a
nossa vida em completa paz.
Os dias, os meses se passaram, até que em
fevereiro desse ano, mais exatamente na segunda-feira, dia 9, Palmira e Eliane
precisaram sair.
Neuza deveria estar no trabalho e ficamos nós
duas no apartamento: -Eu e Jade.
O ponteiro menor do relógio apontava para o 3 e
o maior estava no 10.
Alguns minutos se passaram e de repente pelo
vão da porta, entrou alguma coisa na sala.
Alguém deve ter jogado aquela bolinha com
cheiro de peixe para dentro, pois mesmo sendo somente uma cachorrinha eu sempre
soube que peixes não costumam entrar sozinhos por baixo de portas de
apartamentos.
Minha amiga Jade foi correndo em direção a
bolinha.
Alguma coisa me disse que algo estranho estava
acontecendo.
Não sei se existem anjos para animais, porém,
era como se dentro da minha cabecinha de animal, uma voz dissesse:
-Não! A voz parecia até ser da minha dona quando dizia para eu não fazer alguma coisa errada.
Eu tentei empurrar Jade para longe, pois ela
não havia percebido o perigo!
Corri o mais que pude e consegui chegar perto
da bolinha antes dela..
Jade queria comer aquela bolinha com cheiro de
peixe e eu não podia deixá-la fazer isso!
Eu não sabia porque mas eu sentia que havia
alguma coisa errada...
Eu só tinha uma certeza:
-Não podia deixar Jade comer aquela bolinha!
Como Jade estava decidida a fazer isso, a única
alternativa que tive foi comer sozinha a bolinha toda.
Jade brigou comigo, queria um pedaço, mas eu
não deixei!
Alguns minutos depois, meu corpo foi ficando
muito estranho.
Um mal estar tomou conta da minha cabeça que
rodava, rodava...
Corri até o quarto e fui em direção à cama da
minha dona.
Lá eu sempre me sentia segura.
Pensei: -Quem sabe eu consigo melhorar se me
deitar um pouco ?
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Não me lembro de mais nada. Acho que desmaiei.
Só me lembro de ter acordado aqui.
Aqui também é muito bonito. Eu vejo seres
humanos e animais brincando, parece que todos estão felizes!
Eu confesso que sinto muita saudade da minha
dona, aliás, das minhas donas.
Neuza, minha amiga Neuza:
-Não chore por mim. Eu estou bem e perdôo quem
colocou veneno naquela bolinha com gosto
de peixe.
Estou feliz porque consegui impedir que a minha
amiga Jade morresse também.
Afinal de contas, quem iria ficar para cuidar
das irmãs Neuza, Palmira e Eliane, minhas queridas donas?
O importante é que eu trouxe comigo as
maravilhosas lembranças da minha vida no Planeta Terra.
E também terá sido válida a minha morte se ela
servir para que todos os seres humanos que lerem a minha história, resolvam
empunhar a bandeira do Amor Maior.
O Amor aos Animais, o Amor a todos os seres
humanos, à Natureza...
Se todos aí da Terra conseguirem colocar em
prática esse Amor Maior talvez um dia
não se joguem mais bolinhas com veneno para animais e nem se joguem
bolas de fogo em países, em pessoas, em Deus...