As 7 Vidas de Simba
Colecionador > Parte 1
Sergio Valério
Os gatos possuem sete vidas. Esta é uma
verdade que Simba desconhecia, pois ele não se lembrava das seis vidas
anteriores. Simba se lembrava apenas da última, vivida em São Paulo.
O primeiro olhar de seus donos. A
caixinha em que fora acomodado ao lado de seu irmão Flocos. A primeira vez que
seus donos passaram as suas mãos em sua cabeça.
Tinha sido maravilhoso! É certo que a
sua saúde, debilitada, não lhe permitia imitar os saltos e as acrobacias que
seu irmão fazia, mas fazer parte daqueles momentos de alegria em família já lhe
eram suficientes.
As idas aos veterinários que tentavam
resolver os seus problemas já faziam parte da rotina dos seus dias.
O olhar preocupado de sua dona. A
enorme dificuldade de andar. A dor que incomodava. Tudo isso, é claro, não era
bom, mas a energia que pairava no ar do amor que lhe tinham os seus donos, era
o melhor remédio para tudo aquilo que tinha que enfrentar.
Ser gato não é fácil, assim como também
ser um humano não deve ser, é o que pensava Simba.
O ser humano sai de casa cedo, sabe-se
lá tanta coisa que tem que fazer! Simba ouvia o barulho dos carros e imaginava
seus donos indo para lá e para cá em seus veículos que faziam um estranho
miado...
Ele pensava: - Como deve ser chato
ficar em frente ao computador horas e horas por dia! E, como se não bastasse,
ficar atendendo aquele aparelho que chamam de celular que, além de se ter que
falar nele, ainda é necessário ficar escrevendo mensagens, enviando whatsapps!
Tudo isso, para que?
Para se manter “conectado” ao mundo?
Ué, pensava Simba, mas viver já não é o suficiente? É tão obrigatório viver
também virtualmente?
As horas se passavam lentamente. Flocos
durante o dia passeava pela casa, saltava atrás de imaginárias caças e já
iniciava seus caminhos pelos mais diferentes miados...
Já Simba, ficava deitado, apenas
esperando o retorno de seus donos. Seu irmão parecia perceber as dificuldades
do irmão e, volta e meia, vinha lamber o seu pelo, como se quisesse
acariciá-lo, tentando compensar com carinho as suas dificuldades de mobilidade.
Um certo dia, Simba precisou dar adeus
para a sua sétima vida. Ele se foi, mas deixou a sua luz na casa de seus donos.
Seu irmão, Flocos viverá todas as alegrias que ele gostaria de ainda poder
viver, mas Simba está em paz.
Assim como todos os seres humanos que,
mais dia ou menos dia, terão que partir para outras aventuras sabe-se lá aonde,
ele também as viverá.
Haverá uma oitava vida ou ainda muitas
outras vidas a serem vivenciadas? O tempo dirá, mas o fato é que Simba em seus
quase sete meses de vida, viveu a eternidade daquilo que os humanos costumam
chamar de... felicidade!