O Homem de terno preto
Colecionador > Parte 3
Sergio Valério
O
homem de terno preto chegou em casa às seis da tarde, abriu a porta e, como
sempre, viu o seu cão se aproximar dele balançando o seu rabinho, demonstrando
toda a sua felicidade.
Ele
não pareceu notar o carinho que o cão que oferecia e atravessou os diversos
cômodos da casa até chegar ao quarto. Lá, retirou a mala, colocou suas camisas,
ternos, gravatas, cuecas e meias, fechou-a e a trouxe até a sala.
O
cachorro o seguia por todos os lugares que ia, mas o homem parecia não notar.
Ele fez alguns telefonemas ao celular, com a mão direita apanhou o notebook que
estava sobre a mesa e novamente saiu de casa.
O
cachorro latiu diversas vezes tentando lhe chamar a atenção, mas foram em vão
os latidos e as tentativas de ter do homem alguma atenção.
O
táxi, lá fora, aguardava o homem de terno preto. Ele abriu a porta do táxi,
entrou e nenhum olhar destinou ao portão onde o cachorro ainda tentava buscar
um olhar de seu dono.
No
trânsito, diversas ligações fez e recebeu ao celular. Sua voz parecia ser
apenas automaticamente fria, sem nenhum sentimento, ele apenas falava.
No
aeroporto, cruzou o saguão em direção ao check in, fez mais alguns telefonemas
e, em seguida, sentou-se na lanchonete. Um café e um pão de queijo tentaram
compensar a falta do almoço e a voz pausada no sistema de som do aeroporto o
levou a procurar o portão que o levaria até a aeronave.
O
avião decolou e, dentro de minutos, o barulho do motor cruzava a cidade e lá
embaixo, em uma certa casa, em alguma região da cidade, um cachorro latia para
o alto como se ainda tivesse a esperança de ter o olhar do seu dono.