Fim de Ano
Colecionador > Parte 1
Sergio Valério
Abel
estava em pleno trânsito na Avenida Paulista quando se deu conta que já havia
chegado o fim de ano. Algumas luzes para o Natal já estavam acesas e exatamente
por isso, a sensação estranha de não ter realizado muita coisa do que havia
planejado para o ano, lhe trouxe uma incômoda vontade de querer recuperar o
tempo perdido.
O que ainda seria possível
fazer, pensou consigo mesmo, enquanto o seu GPS lhe indicava o caminho para a
sua reunião, na suave voz feminina sem emoção. Seis quilômetros depois, ele
ouvia também do seu GPS: “Você chegou ao seu destino!” e, sem perceber, ele
falou em voz alta: Cheguei aonde? Você está louca, mulher? Eu não cheguei a
lugar algum dos que eu queria alcançar neste ano!
O segurança do prédio
que o atendia na porta da garagem não entendeu nada as palavras daquele homem
de terno cinza. Abel disfarçou, sorriu e se identificou. O carro seguiu pelos
andares da garagem e ao estacionar o seu veículo onde tinha sido indicado, ele
notou uma senhora com uma bengala que tentava alcançar o seu poodle que,
aparentemente, havia escapado do seu carro.
A primeira reação foi
deixar a cena para lá e se dirigir ao elevador, afinal de contas, ele já estava
atrasado para mais uma de suas sempre frequentes reuniões de trabalho, mas
sabe-se se lá porque, Abel resolveu ajudar a senhora.
Depois de algum tempo,
finalmente Abel conseguiu atrair o poodle que se deixou agarrar. A senhora
sorriu, abraçou o seu cachorro que lhe foi entregue por Abel e lhe disse:
Muito obrigado! O
senhor foi muito gentil! Sem a sua ajuda eu não conseguiria alcançá-lo. O
poodle também pareceu sorrir, aliás, os animais sabem sorrir, nós é que às
vezes, não conseguimos perceber.
Abel também sorriu e
voltou para o seu carro para apanhar a sua pasta, para então subir no elevador
que o levaria para os seus negócios. Enquanto os números dos andares passavam
pelos seus olhos, ele percebeu que se sentia melhor e o incrível é que, nada
especial havia acontecido... Ou não?
Ao abrir a porta no
décimo sétimo andar, como se tivesse ouvido um “clic” em sua mente, Abel
percebeu que exatamente o que o havia feito sentir-se melhor, fora o fato de
poder ajudar alguém.
Afinal de contas,
chegar aos nossos objetivos talvez não seja o fundamental e sim, de que forma
caminhamos pela vida, enquanto vamos em busca de alguma coisa.