Ou ele ou eu
Colecionador > Parte 1
Sergio Valério
Quando Leandro perguntou: “Ou ele ou eu”, Margarete não teve dúvidas e respondeu: -Ele!
Os minutos que se seguiram foram de tensão, afinal de contas, não é fácil quando acontece uma situação dessas.
Leandro apanhou suas camisas, calças, meias e sapatos e lá se foi pelo elevador carregando sua mochila azul marinho.
Margarete sentou-se no sofá e ligou a televisão. Estava na hora da novela e o ator dava um beijo técnico na atriz. Os dois faziam o casal principal na história e a cena era extremamente romântica. Uma música começou a tocar e a câmera girava 360 gráus, deixando tontos quem assistia.
Nesta hora, o telefone tocou. Do outro lado uma voz falou qualquer coisa e Margarete sorriu e disse que iria em seguida, pois já estava saindo de casa para apanhá-lo.
As chaves do carro estavam sobre a geladeira e ela foi rápida ao apanhá-las. Passou pela sala, olhou-se no espelho e ainda teve tempo de abrir a bolsa e retocar o baton.
O vestido azul lhe caía muito bem e mostrava que Margarete ainda era linda, aos seus 45 anos de idade.
Secretária de uma empresa, já há cerca de quinze anos, tinha a sua independência e não dependera de Leandro nos cinco anos de união, aliás, nem fizer questão de se casar, pois considerava que isso hoje já não importava mais.
O que ela queria era ser feliz e se Leandro resolvera ser tão radical impondo a condição de “Ou ele ou eu”, isto seria, a partir de agora, um problema dele e não dela.
No carro, Margarete olhou no banco de traz para ver se havia se esquecido de alguma coisa dele. Sorriu quando viu a roupa que havia comprado para Raul. Aliás, ele era tão lindo! Maravilhoso! Como ela podia pensar em deixá-lo?
Durante o trajeto, ligou o rádio e ainda pode ouvir a sua música predileta tocar no rádio. Roberto Carlos cantava “Emoções” e ela fazia coro.
Margarete parou o carro em frente de onde ela iria buscá-lo. Abriu a porta e entrou. Ele estava mais lindo do que nunca, pois havia acabado de sair do Centro de Estética.
Raul, o seu poodle, pulou de alegria ao vê-la e ela o abraçou quando o recebeu no balcão. Consigo mesma pensou:
- Como é que o Leandro podia querer que eu me desfizesse do Raul? Ele é a minha vida!
Leandro, sentado no banco do ônibus que o levaria de volta para a sua cidade natal, via a cidade de São Paulo se afastar dos seus olhos.
Ele havia perdido Margarete, o grande amor de sua vida, por ciúmes de Raul. Pura bobagem de quem ainda não entende nada de amor e muito menos do amor pelos animais.