Outro fim de ano...
Colecionador > Parte 3
Sergio Valério
Quando o final de ano ia se aproximando, Luis Carlos se sentia
diferente, talvez porque as festas o deixavam com uma certa sensação de
melancolia. As lembranças se faziam mais fortes, aqueles amigos e parentes que
ele não mais podia encontrar se tornavam mais presentes em sua mente e tudo
parecia ter um toque de cinza e jamais de azul.
Faltava pouco tempo para o Natal e Luis Carlos voltava do seu trabalho
como contador da empresa na qual já trabalhava há vinte e cinco anos. A cidade
já se pintava de luzes piscantes e as vitrines das lojas misturavam papais
noéis com brinquedos, roupas e cartazes de promoções.
A Avenida Paulista parecia em festa, as pessoas com suas máquinas
fotográficas clicavam os bonecos, as renas, enfim, tudo que aparecia na frente,
afinal era preciso registrar tudo que o se via. Celulares, ipads, ipods
pareciam estar em uma louca corrida contra o tempo querendo acessar tudo, como
se fosse possível querer abraçar o mundo num toque...
Luis Carlos caminhava tranquilo, quase que alheio a toda movimentação
que o rodeava. Nada mais chamava a sua atenção, a vida lhe dera muito, porém
havia lhe cobrado um preço extremamente caro por todo o sucesso em sua
carreira.
De repente, Luis Carlos viu um cão passar em sua frente, o animal
mancava e parecia estar sofrendo, pois a expressão era de dor. O cachorro
estava indo em direção a um parque que ficava na Avenida Paulista e Luis Carlos
se deu conta que parecia que ninguém havia notado o cão, somente ele.
Ele apressou o seu passo até que conseguiu se aproximar do cachorro que
havia se escondido atrás de caixas de papelão que estavam no canto da calçada.
Luis Carlos se abaixou e olhou bem nos olhos do animal que pareceu assustado,
afinal de contas, em pleno final de ano a maioria das pessoas está preocupada
em ver as festas ou ainda pensar no que dar de presente aos seus.
O homem e o cão pareceram querer entender os seus pensamentos, pois
ficaram quase que estáticos, olhando um para o outro. De repente, Luis Carlos
estendeu os seus braços. O cão titubeou, mas depois de alguns segundos
levantou-se e vagarosamente se aproximou do homem.
Após alguns minutos, Luis Carlos, abraçado ao cão, caminhava e em seu
rosto um brilho estranho havia. O cão deixava-se abraçar e a dor parecia ter
ido embora.
As músicas de Natal tocavam em todos os lugares, os presentes estavam
nas sacolas e as luzes brilhavam em todos os edifícios, mas parecia que o
espírito de Natal estava mais presente ainda naquela cena do homem e o cão,
simplesmente seguindo felizes pela mais famosa avenida de São Paulo...