Um Dia de Verão
Colecionador > Parte 3
Sergio Valério
Humberto
levantou-se às seis da manhã e o relógio lhe parecia extremamente antipático
com aquela estridente campainha.
O café da manhã lhe
passou um gosto amargo, mesmo com o excesso de açúcar na xícara. Os sapatos lhe
apertavam os pés, o trânsito mais congestionado do que todos os dias, o sol
mais forte e a gravata mais apertada.
No
estacionamento da empresa apenas a pior das vagas lhe esperava e a coluna
raspou em seu velho carro que, por sinal, estava com o ar condicionado
estragado. O relógio de ponto fez questão de registrar os dezenove minutos de
atraso e o chefe lhe deu o mais mal humorado bom dia de todos os últimos meses.
Sobre
a sua mesa estava um telefone para o qual deveria ligar e o assunto era o saldo
negativo de sua conta bancária. Ao tentar abrir a gaveta descobriu que havia
esquecido as chaves em casa, ao ligar o computador notou que estava sem
Internet, ligou para o Departamento de Informática que lhe informou que somente
no período da tarde o acesso seria possível.
Humberto
desligou o telefone e algo lhe veio à mente: - Havia se esquecido de desligar o
forno em que havia esquentado as torradas que por sinal já estavam queimadas
quando as havia comido.
Rapidamente
saiu pelo corredor, depois de bater o joelho na quina da mesa e pode ouvir
ainda a voz do chefe que lhe chamava. Humberto fez questão de fazer de conta
que não havia ouvido nada e em disparada chegou até o carro e depois ao sair,
ouviu mais um raspão da lateral direita na coluna do estacionamento.
Chegou
em casa, abriu a porta e tropeçando no pé da cadeira chegou até o fogão,
notando então que havia desligado o forno e que havia apenas pensado não o ter
desligado.
Neste
momento, Rex veio em sua direção e lhe deu uma lambida no rosto. Humberto
sorriu e pela primeira vez no dia sentiu-se bem. Tirou a gravata, jogou-a no
sofá e ao lado de Rex saiu pela rua em direção ao parque.
A
vida lhe pareceu então, muito mais leve. Amigos, Humberto e Rex passaram o dia
no parque, enquanto o chefe tentava em vão ligar para o celular que sozinho ao
lado da gravata não tinha ninguém para atender.