Lalá
Colecionador > Parte 5
Sergio Valério
Lalá não brinca mais com o seu
dono. Não porque não queira, mas porque ele não tem mais tempo para ela. Seu
dono ganhou um novo cargo na empresa que trabalha e o seu tempo é todo ocupado
por compromissos que ele sempre classifica como importantes e urgentes.
Ela só sabe que sente
falta da presença do seu dono ao seu lado, dos fins de tarde em que ele a
levava para passear pelas ruas do bairro.
Ela se lembra vagamente
do caminho, talvez se conseguisse sair de casa, Lalá pudesse percorrer de novo
aquele trajeto que passava pelo cachorro bravo que latia ao vê-la passar, por
aquele mato que crescia ao redor daquela maravilhosa árvore ou talvez ainda
daquele trecho de calçada onde costumava parar para sentir no portão, o cheiro
dos cachorros que haviam passado por lá.
Lalá hoje vive triste,
late de quando em quando, respondendo aos cachorros da vizinhança e pula no
portão de ferro quando ouve o carro do seu dono estacionar na garagem. Ele
passa, diz qualquer coisa que inclui o seu nome e depois desaparece pela casa.
Lalá não entende muito
dessas coisas que os humanos inventam para tomar todo o seu tempo, mas alguma
coisa dentro de sua pequena cabeça lhe diz que tudo isso não vale a pena...
Afinal de contas, nada
pode substituir o calor da amizade e da alegria de se conviver com quem se ama,
nem o mais promissor cargo de executivo.
É pena que o seu dono
ainda não saiba disso.