O Gato e a Mulher
Colecionador > Parte 2
Sergio Valério
Quando abriu o portão de sua casa e estacionou o carro na garagem, Lurdes ouviu um barulho que vinha do muro da casa da vizinha. Ela olhou para cima e viu um gato preto.
A primeira reação foi um susto, pois em São Paulo todos nós sempre vivemos com aquela sensação que algo pode nos acontecer a qualquer instante, porém ao se dar conta de que era só um gato, Lurdes sorriu e fez um sinal para o felino.
Era apenas um gesto, mas o gato resolveu vir ao seu encontro, afinal de contas, bichos não sabem que os humanos às vezes chamam, sem necessariamente quererem que se vá ao encontro deles.
O gato pulou sobre o carro da moça e foi se aproximando. Lurdes arriscou passar a mão no pelo do gato e ele simplesmente, ronronou, demonstrando que havia adorado aquele gesto.
De repente, do nada, surgiu aquele homem com um revólver. Ele gritou: É um assalto! A chave, a chave do carro!!!
Lurdes sentiu o coração disparar, mas conseguiu se controlar suficientemente para pegar a chave que estava em sua bolsa e esticou a mão para entregá-la ao assaltante que balançava a arma, muito nervoso.
O homem achou que Lurdes iria reagir e tudo aconteceu muito de repente, o gato pulou sobre o assaltante exatamente quando ele disparou a arma em direção à mulher. Um tiro se ouviu, o homem se assustou e fugiu, correndo pela rua, enquanto Lurdes caia sobre o piso frio da garagem.
Em instantes, os vizinhos saíram de suas casas para saber o que havia acontecido e a encontraram apenas desmaiada.
E o gato? Ele ali não mais estava e quem sabe fosse verdade a lenda de que um gato rondava sempre aquelas casas, a procura de sua dona que um dia o havia levado para bem longe, para que ele não encontrasse mais o caminho de volta.
Na parede da casa, cravada na porta, a espera que algum perito criminal a examinasse, uma bala ainda quente, com pelos de gato, talvez pudesse explicar, o inexplicável.