Ezequiel e Tatau
Colecionador > Parte 4
Sergio Valério
Nas esquinas do centro
da cidade, Ezequiel pede esmolas. Em sua cadeira de rodas, que ele encontrou
quebrada, mas que a sua habilidade a fez como se fosse nova, ele desliza no
asfalto, entre os carros, pedindo ajuda, tendo em seu colo, o amigo fiel Tatau,
um vira-lata que ele conheceu também nas ruas.
Ezequiel jamais soube o
que é viver em uma casa, seu teto sempre foi o céu ou os viadutos e pontes da
cidade de São Paulo, porém há tempos atrás, ele andava, ao invés de estar em
uma cadeira de rodas.
A bebida o levou, certa noite, a
dormir em plena Avenida São João, o que lhe causou o atropelamento por uma van.
Ao contrário do que
muitos poderiam pensar, Ezequiel não é um homem amargo. Ele sorri o tempo todo,
ele e Tatau parecem estar de bem com a vida, como se ela lhes tivesse oferecido
sempre o melhor.
Ezequiel gostaria
apenas de oferecer muito mais a Tatau. Nas esquinas, conversando com os
motoristas que param nos faróis, à noite, no centro da cidade, ele pede
principalmente ração para o seu cachorro. Alguns já conhecem o simpático homem
da cadeira de rodas e já guardam em seus carros, um saco de ração para oferecer
para Tatau.
Quando recebe algo para
dar ao seu amigo fiel, Ezequiel sorri mais ainda. Seus dentes brilham com o
reflexo dos faróis, enquanto o sinal se abre para a passagem dos carros.
Pode ser que no meio da
madrugada, Ezequiel chore baixinho em algum viaduto da cidade, porém se isto
acontece, somente ele e Tatau ficam sabendo. Para todos que o vêem, a alegria
parece ser apenas o que acontece em seu rosto.
Todos nós temos muito
que aprender com Ezequiel, afinal de contas, quantas vezes reclamamos por uma
pequena pedra que surge em nossos caminhos? Em quantos momentos nos atiramos ao
desânimo apenas por algo que não aconteceu como queríamos?
Precisamos ser
Ezequiéis em nossos caminhos e cuidar de Tataus para que a nossa vida se torne
produtiva e para que tenhamos o que levar quando nos encaminharmos para outras
vidas ou para sabe-se lá onde Deus nos estiver esperando.
Um abraço, Ezequiel e
Tatau! Obrigado pelo exemplo.