Os Gatos de Celestina
Colecionador > Parte 4
Sergio Valério
Celestina ama seus
gatos, assim como Deus ama todas as suas criaturas. O amor de Celestina não
prevê cobranças e nem tampouco, exclusividades, ela apenas ama os seus gatos e
ponto final. Ela gostaria de tomar conta de todos os gatos do mundo, para que
não lhes faltasse jamais ração e carinho, porém em sua pequena casa, no bairro
do Limão, não há espaço para mais nada, embora o seu coração lhe permita sempre
trazer mais um e mais um gato.
Os vizinhos reclamam
que seus gatos miam demais e ela já não sabe mais o que fazer, sempre se deu
muito bem com os seus vizinhos e não gostaria de incomodá-los, porém não
consegue imaginar a possibilidade de devolver todos aqueles gatos para as ruas.
À noite, enquanto a Lua
abre a sua luz pela janela da casa de Celestina, seus gatos passeiam pelos
móveis antigos da casa que permanece como se fizesse ainda parte de séculos
atrás. Todos os espaços da casa são limpos com muito carinho, pois Celestina
sabe que a limpeza também é fundamental para que seus gatos estejam bem.
A vida segue seus
passos e Celestina, os seus, certa de que sua missão precisa ser bem cumprida,
afinal de contas, depois que Valdemar, seu marido, se foi, a ausência precisou
ser substituída por muito trabalho como costureira do bairro. Hoje, as lojas
oferecem vestidos, blusas e saias a um preço que ninguém conseguiria competir
com suas próprias agulhas e linhas e, desta forma, suas habilidades agora
somente são utilizadas para pequenos consertos.
Celestina ama seus
gatos e parece que isto tem lhe causado dificuldades em seus relacionamentos em
sua rua, alguns a chamam de louca e outros de irresponsável, porém seus gatos
são cuidados com todo o amor e carinho. Seu quarto, sua sala, seu banheiro, sua
cozinha, são exemplos de como uma casa deve ser, porém ainda existe um
preconceito que faz com que, o fato de ter muitos animais, faça com que muitas
pessoas não a julguem corretamente. Aliás, o ser humano tem a mania de
pré-julgar e de julgar como se pudéssemos ter o dom do equilíbrio para que
julgamentos possam ser feitos em nossas pequenas mentes, ainda incapazes de ver
as coisas de uma maneira mais profunda.
Hoje à noite, Celestina
se sentará em sua cadeira de balanço e em seu toca-discos um LP rodará canções
de seu tempo e os gatos se deitarão ao seu redor. Enquanto isto, tantos outros
de nós estarão se debatendo contra o trânsito, levantando a voz quando uma moto
passar rente de nossos carros, enquanto gatos na calçada estarão buscando em
latas de lixo, restos que jogamos fora no dia de ontem.