Sandro Cappelli (2) - Jornal Animal

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Sandro Cappelli (2)

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MICOTOXINAS, UM PERIGO INVISÍVEL QUE PODE COMPROMETER A QUALIDADE DE VIDA DO SEU PET.
A web revista pet Jornal Animal apresenta mais uma entrevista com o zootecnista Sandro Cappelli. Ele nos traz importantes informações. Vamos conferir?

1.   O que são micotoxinas e como foram descobertas?
R. As micotoxinas foram descobertas há mais de 70 anos, devido a um surto inexplicável de mortes em massa ocorridas na avicultura do Reino Unido. Com o passar do tempo mais casos foram se espalhando pelo mundo, e a partir disso foi descoberta uma substância fluorescente na ração das aves, produzida por um fungo chamado Aspergillus flavus. A contaminação nas rações era provinda do amendoim que entrava como ingrediente das rações, produto importado do Brasil e da África.
As micotoxinas são compostos tóxicos que são produzidos por algumas espécies de fungos, e podem contaminar as matérias primas utilizadas na alimentação humana e animal. Estes casos podem surgir como surtos ou casos isolados, e os danos causados podem ir de leves intoxicações à quadros irreversíveis.
Hoje em dia sabe-se que existem mais de 17 compostos tóxicos que são produzidos por fungos. Dentre todas micotoxinas, as de maior importância são as aflatoxinas B1, G1, G2 e B2; grupo de tricotecenos, onde se encontram as toxinas T2, neosolaniol, fusanona x, nivalenol e deoxivalenol; zearalenona, fumonisina, ocratoxina, patulina, citrinina e ergotamina.

2.   De que forma ocorre o contato dos cães e gatos com estes fungos e seus metabólitos conhecidos como micotoxinas?
R. A intoxicação causada por estes metabólitos é bem simples, é provinda da alimentação a partir da própria ração Pet.
A contaminação vem desde o campo, onde as matérias primas empregadas na produção das rações são atacadas por fungos, e a partir disso são consequentemente contaminadas por seus metabólitos produzidos.
As micotoxinas podem ser encontradas em vários alimentos, mas alguns são mais susceptíveis que outros, tudo devido à composição química. Em geral, alimentos com alto teor de carboidratos são os mais favoráveis. Contudo, as espécies de Aspergilus tem mostrado grande afinidade de infestar plantas de oleaginosas.
As principais matérias primas que podem apresentar micotoxinas e que podem ser incluídas na produção de rações para cães e gatos são: milho; arroz e suas farinhas; trigo, suas farinhas e farelos; amendoim; vegetais desidratados.

3.   Qual a micotoxina de maior importância na alimentação de cães e gatos? Quais os sintomas e danos causados?
R. As aflatoxinas são a de maior importância na nutrição de cães e gatos, pois são causadoras de aflatoxicoses severas.
Em cães e gatos as intoxicações por aflatoxinas são altamente hepatocarcinogênicas, mutagênicas e teratogênicas. Causam diversos efeitos tóxicos, afetando principalmente o fígado. Desta forma compromete completamente o animal, que além de estar com uma intoxicação latente não consegue eliminar o material tóxico do organismo.
Os cães são ao animais mais afetados pelas aflatoxinas, que na maioria das vezes está presente nos grãos ricos em amido. Estes grãos podem representar até 50% da inclusão da matéria prima na formulação de uma ração balanceada.
Em um estudo realizado em 2009 pela Universidade de Santa Maria, que ao analisar rações de cães de diversas regiões do Brasil, encontrou contaminação de aproximadamente 30% das rações de cães e gatos com aflatoxinas, um número potencialmente elevado.
Quando consumidas em altas doses, as aflatoxinas são letais para cães e gatos. O que agrava mais ainda a situação é de que os sinais muitas vezes são inespecíficos e de forma intermitente, confundindo o médico veterinário e dificultando o diagnóstico.
Os sintomas que os cães e gatos podem apresentar devem ser analisados em uma anamnese, conjuntamente com o envio de amostra da ração do pet para análise de micotoxinas, além da coleta de sangue para análise bioquímica. A sintomatologia mais comum é a seguinte: anorexia, vômito, diarreia, apatia, fraqueza, mucosas pálidas, náuseas e em casos mais graves o óbito do animal.
 
4.   Existem níveis admissíveis? Há fatores que podem agravar esta contaminação na ração pronta?
R. No Brasil, existe um limite máximo de 50ppb de aflatoxinas totais nas matérias primas, utilizadas diretamente ou como ingrediente para rações indicadas ao consumo animal. Nos Estados Unidos este limite cai para 20ppb.
Em relação a qualidade direta do produto final que é a ração, a própria indústria pode estabelecer seus limites dentro dos 50ppb. Níveis menores exigidos pelo área de controle de qualidade e nutrição animal, promovem a confecção de um alimento mais seguro, principalmente em linhas de rações especiais e Super Premium, onde exige-se uma matéria prima de maior qualidade nutricional e segurança alimentar.
Após a ração estar pronta, ela é embalada para evitar o contato com o ambiente. Quando a ração para cães e gatos é comercializada a granel, é inevitável o contato com o meio ambiente. A exposição, faz com que a umidade e o calor afetem o desenvolvimento de fungos, desta forma, caso encontrem-se espécies produtoras de micotoxinas, pode sim ocorrer um aumento na contaminação.
O importante é que os animais pet sempre consumam rações adquiridas em embalagens lacradas, pois a partir do momento que um grande saco de ração é aberto e exposto para a comercialização a granel, os níveis de garantia propostos podem ser perdidos.

5.   Qual o papel da indústria no controle destes metabólitos tóxicos?
R. O papel da indústria é primordial para a produção de um alimento livre de micotoxinas, não somente na cadeia de petfood, mas em toda cadeia da nutrição animal, pois os danos causados no meio produtivo são de grande impacto, principalmente na suinocultura.
Devido a toxina produzida ser um perigo químico e o fungo produtor um perigo biológico, ambos indetectáveis em uma análise sensorial, o controle da qualidade toxicológica através de testes rápidos é fundamental.
A indústria deve avaliar a quantidade de micotoxinas que existem nas matérias primas adquiridas, principalmente nos grãos ricos em amido, que são os mais susceptíveis as contaminações por fungos.
Através de testes rápidos as cargas são avaliadas, podendo serem aceitas ou recusadas.  A partir da tomada de decisão, as matérias primas devem ser separadas conforme a qualidade, e os grãos são destinados para produção de rações de nível Combat e Standard, até o nível Super Premium.
Caso seu pet apresente algum sintoma e comportamento atípico, dentre os citados acima em intoxicações por micotoxinas, não hesite em procurar um médico veterinário de sua confiança. Quanto antes os sintomas forem analisados e os exames realizados, as chances do diagnóstico e recuperação se estendem, prolongando assim o tempo de vida do seu animal.

Sandro Cappelli
Pós-graduando em Gestão da Segurança de Alimentos pelo SENAC (2016 - 2017). Zootecnista formado pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul - IFRS Campus Sertão (2015). Técnico em Agropecuária com Habilitação em Zootecnia pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul - IFRS Campus Bento Gonçalves (2010). Atualmente é auxiliar de laboratório na empresa MigPlus Nutrição Animal.
 

Editor: Sergio Valério
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